Posted: 30 Apr 2015 11:52 AM
PDT
A
dissertação-argumentativa é um tipo textual da ordem do argumentar, isto é,
ao mesmo tempo em que dissertamos sobre um tema temos de convencer o nosso
leitor, por meio de argumentos e estratégias argumentativas, de que a nossa
tese é a mais adequada ou correta. Portanto, redações no Enem que apenas
dissertam fogem do tipo textual requerido pelo exame e, deste modo, zeram na
segunda competência “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos
das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites
estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa”.
O
candidato deve, primeiramente, criar uma tese, ou seja, um ponto de vista
acerca do tema abordado pela proposta de redação do Enem e fundamentá-la em
argumentos e em estratégias argumentativas a fim de convencer o leitor de que
a sua opinião está correta.
Há mais
de um tipo de argumento e de estratégias argumentativas as quais o autor de
uma dissertação-argumentativa, um artigo opinativo, um editorial ou uma
resenha crítica – gêneros da ordem do argumentar – pode recorrer a fim de cumprir
o propósito de expor a sua opinião, embasá-la e convencer o seu leitor.
Normalmente,
a tradicional dissertação-argumentativa já traz na sua introdução a tese do
autor, ou seja, o seu ponto de vista que será defendido ao longo de todo o
texto. Para embasar essa tese, o autor pode lançar mão de um ou dois
argumentos principais e estratégias argumentativas que os fundamentem:
Argumento Concreto: esse tipo de
argumento é uma prova cabal do que está sendo dito pelo autor e trata-se de
dados estatísticos oriundos de pesquisas confiáveis, fatos reais que
comprovam a tese do autor, textos legislativos (leis de todas as instâncias)
etc.
Argumentos Lógicos: já esse tipo de
argumento é oriundo de um raciocínio lógico que estabelece relações de
sentido lógicas, como por exemplo, comparações, causa e efeito, deduções,
hipóteses, inferências etc.
Argumento Autoritário: esse tipo de
argumento traz uma citação de uma autoridade, de um especialista sobre o tema
abordado pela proposta de redação que pode ser um pesquisador, um professor,
um profissional formado na área ou imerso no tema etc.
Alguns
autores de livros didáticos e apostilas colocam como tipo de argumento o de
consenso, isto é, uma verdade universal, mas gostaríamos de chamar a atenção
para esse conceito, pois ele pode nos fazer cair no senso comum.
Posted: 07 May 2015 12:30 PM PDT
Inúmeras discussões são realizadas entre
professores de Língua Portuguesa do ensino básico e docentes universitários
das áreas de língua e linguagem acerca do uso da 1ª pessoa do
singular (eu) em dissertações-argumentativas, mas a verdade é que
a maioria das grades de correção dos vestibulares que pedem esse tipo
textual condenam, digamos assim, a interlocução marcada entre autor e
leitor em dissertações-argumentativas.
Diferentemente da situação de produção de um
texto que circula nas esferas sociais, com autor, motivação, objetivos e
público-alvo específicos, a situação de produção de uma
dissertação-argumentativa é uma situação simulada, ficcionalizada, pois
trata-se de um tipo textual exclusivo da esfera escolar na qual um contexto
e um tema precisam ser criados a fim de se cumprir uma proposta de redação
também simulada. Toda essa simulação é necessária porque não há uma real
motivação, exceto pedagógica e avaliativa, para se escrever uma
dissertação-argumentativa.
Como há esse deslocamento de uma situação de
produção real na qual há uma verdadeira motivação (como escrever uma carta
de leitor para um jornal, um relatório para a empresa, uma carta aberta
para alguma autoridade, um resumo para um professor, uma entrevista para
uma revista etc) para uma situação avaliativa de uma prova, como é o caso
do Enem,deve-se evitar o uso da 1ª primeira do singular, o uso do
imperativo (ordem) e também deve ser evitada a referência da coletânea de
textos motivadores e da proposta de redação em si, já que devemos nos
colocar como autores que possuem a voz do bom senso e da razão que objetivam
convencer um leitor que representa um leitor universal (também simulado),
ou seja, qualquer pessoa que é alfabetizada.
Assim, devemos evitar o uso da 1ª
pessoa do singular e do imperativo para não estabelecermos uma interlocução
com o nosso leitor. Outras marcas que devem ser evitadas pela mesma
razão são as de 2ª pessoa do singular (você, seu, sua, teu, tua etc) e do
plural (vocês, seus, suas, teus, tuas etc).
Além disso, já que devemos imaginar um leitor
universal para as nossas dissertações-argumentativas, não podemos pressupor
que ele conhece a coletânea de textos motivadores e a proposta de redação
em si e, assim, devemos evitar escrever, por exemplo: “segundo o texto um
da coletânea” e “de acordo com a coletânea de textos motivadores”.
Posted:
02 May 2015 09:30 AM PDT
As figuras de linguagem são recursos
linguísticos utilizados para aumentar a expressividade da mensagem
transmitida em um texto. Existem muitas figuras de linguagem, sendo que
algumas são mais cobradas nos vestibulares e no ENEM, principalmente na
prova de linguagens,
códigos e suas tecnologias.
Há algumas figuras de linguagem bem próximas
quanto a seu significado ou uso, o que costuma causar bastante confusão
entre os alunos, surgindo erros de interpretação. Levando isso em conta,
vamos apresentar as principais figuras que têm semelhanças e costumam
causar dúvidas, através da aproximação delas e discutindo suas principais
diferenças. Para iniciar, vamos hoje entender a diferença entre antítese
e paradoxo.
Antítese é a aproximação de duas palavras de
sentidos opostos, ou seja, na mesma frase ou verso serão usadas duas
palavras de sentidos contrários. Para ficar mais claro, vejamos exemplos:
“Eu vi a cara da morte, e ela estava viva”.
Cazuza.
“Onde queres bandido sou herói.” Caetano
Veloso.
“Já estou cheio de me sentir vazio, meu corpo
é quente e estou sentindo frio.” Renato Russo
“Do riso se fez o pranto” Vinícius de Moraes.
Observe que em todas essas frases (ou versos)
estão presentes duplas de palavras opostas. O mais importante aqui é
observar que, apesar de opostas, a situação descrita é possível.
Em “Onde queres bandido sou herói.”, o personagem não é bandido e herói
ao mesmo tempo. Espera-se, por uma segunda pessoa, que ele seja bandido.
Entretanto, há uma quebra de expectativa quando, na verdade, ele é herói.
E assim por diante. Em “meu corpo é quente e
estou sentindo frio.”, isso é possível em caso de febre. “Do riso se fez
o pranto” mostra que não se sorrio e chorou ao mesmo tempo, mas que a
partir do riso, iniciou-se um pranto. Entender isso é essencial para
perceber a diferença entre antítese e paradoxo.
Paradoxo ocorre quando a aproximação de
palavras opostas causa uma incoerência, uma contradição. Ou
seja, quando não é possível ter as duas oposições naquele determinado
contexto. Observe:
“Mas
que seja infinito enquanto dure” Vinícius de Moraes.
“O mito é o nada que é tudo.” Fernando Pessoa.
“Estou cego e vejo” Carlos Drummond de Andrade.
“É ferida que dói e não se sente” Camões.
Note
que doer é uma sensação do tato. Logo, é impossível sentir a dor e
não sentir nada ao mesmo tempo. Assim como enquanto dure traz a ideia de
finitude e é impossível ver sendo cego, etc. Portanto, tanto em antítese
quanto em paradoxo há a aproximação de duas palavras de sentidos contrários.
Porém, apenas no paradoxo há contradição envolvida.
Dessa
forma, sempre que quiser diferenciar essas duas figuras de linguagem,
basta observar, dentro do contexto que as palavras opostas estão
inseridas, se há contradição envolvida.
Posted: 10 May 2015 12:59 PM PDT
Assim como a antítese e paradoxo, as figuras de linguagem eufemismo,
hipérbole e gradação também podem ser estudadas em conjunto
por haver uma relação de sentido entre elas, o que facilita a
compreensão de seus significados.
Vamos, primeiramente,
analisar como figura separadamente.
Eufemismo
Tem a função de atenuar, ou seja, amenizar
uma determinada mensagem. No dia-a-dia, fazemos isso principalmente
quando comunicamos algo ruim. Por exemplo, são famosas as expressões
“Ele descansou” ou “Virou um anjo ou uma estrela” para dizer que alguém
faleceu. Isso porque a morte é um assunto delicado de se tratar
diretamente. Assim como a mentira pode ser substituída pela expressão
“faltar com a verdade”.
Hipérbole
Trata-se da figura contrária ao eufemismo.
Se eufemismo ameniza uma ideia, a hipérbole exagera. É só reparar no
nome: HIPER-bole. Aquilo que é hiper é grande. Quando
dizemos, por exemplo, que “estamos morrendo de fome”, realmente não
vamos morrer em alguns minutos por estar passando fome. Ou seja, essa é
uma expressão que exagera a realidade, assim como “tinha um mar de
gente” para dizer que estava lotado ou “chorei litros assistindo aquele
filme” para afirmar que chorou bastante.
Agora que já entendemos essas figuras e
podemos assimilar a oposição existente entre elas, fica mais fácil
compreender a última figura (gradação), que utiliza uma das anteriores
(eufemismo ou hipérbole).
Gradação
Consiste na figura que utiliza uma
sequência de palavras de maneira gradativa, dentro de uma mesma ideia.
Para entender o que é gradativo, pense numa escala de vários tons de
cinza. Em um extremo, teremos um tom mais claro de cinza, próximo do
branco. No extremo oposto, encontramos um tom mais escuro de cinza,
próximo do preto.
Agora podemos mentalmente substituir o
branco e o preto da escala de cinzas pelas figuras eufemismo e
hipérbole. Na gradação, a sequência de palavras podem ir se amenizando
(se tornando uma a uma mais eufêmica) ou ir se exagerando (se tornando
uma a uma mais hiperbólica). Vejamos exemplos para tornar mais claro:
De repente o problema se tornou menos
alarmante, ficou menor, um grão, um cisco, um quase nada.
Nesse caso, as palavras, em relação a seus
significados, vão diminuindo gradativamente.
Isso é igual em todo lugar: aqui, ali, na
esquina, em outro país, do outro lado do mundo.
Já nessa frase, a gradação acontece de
maneira progressiva, já que a cada palavra, aumenta-se a distância.
Dessa forma, percebe-se que na gradação
temos a presença do eufemismo ou da hipérbole e que essas últimas são
opostas.
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*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação
exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades públicas.
Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais
didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
**Camila também é colunista
semanal sobre redação e uma das professoras do Programa de Correção de Redação do infoEnem. Um orgulho para nosso portal e um presente para
nossos milhares de leitores! Seus artigos são publicados todas às
quintas-feiras, não perca!
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